Paulo Goethe
Da equipe do DIARIO
Santander, cidade no Norte da Espanha. Destino de uma pernambucana de 24 anos que, em dezembro de 2002, embarcou com o objetivo de ganhar dinheiro. Há seis meses não mandava notícias para a mãe. Todo este tempo não representava desleixo. Era a confirmação de que a filha estava envolvida numa rede internacional de tráfico de seres humanos. A pedido da família, os nomes das personagens desta história serão mantidos em sigilo. As duas se reencontraram no final da tarde de ontem, em um município do interior do Estado. A filha retornou da Espanha, deportada, após permanecer 40 dias presa em Madri. Além disso, está grávida e viciada em heroína. "Mas está viva e vai ter uma segunda chance", comemora a mãe.
A filha desembarcou ontem, no Aeroporto dos Guararapes. Ela contou que não foi a única deportada pelo governo espanhol. Outras mulheres brasileiras lhe fizeram companhia no vôo de volta. A situação dos estrangeiros ilegais na Espanha ficou mais difícil após o atentado do 11 de março, quando 198 pessoas morreramcom as explosões de bombas numa estação de trem em Madri.
"A chegada dela foi uma surpresa. Já estava chorando muito, achando que minha filha tinha morrido. Agora ela vai ter que passar por um tratamento para se livrar do vício da heroína. Tem marcas em várias parte do corpo", relata a mãe.
Em setembro do ano passado, ela havia procurado o Centro de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos, serviço que funciona na Secretaria de Defesa Social (SDS). Com um dossiê contendo fotos e endereços da filha em Santander, ela também buscou ajuda na Polícia Federal. A Interpol foi acionada, mas até ontem todas as respostas eram negativas. No sábado, a mãe viria ao Recife, para tentar mais um contato no Consulado da Espanha. "Minha filha é muito inteligente, mas problemática. Em São Paulo, ela recebeu um convite para trabalhar na Espanha. Achava que só as bobas eram enganadas", afirma.
O chefe da Delegacia de Polícia de Imigração da Polícia Federal em Pernambuco, Emmanuel Gaspar, confirma que a Interpol foi acionada na busca pelo paradeiro da desaparecida. A linha de investigação mais provável, que foi confirmada ontem, era de envolvimento com prostituição.
SURPRESA - A evidência foi descoberta pela própria mãe, de forma inesperada, no mês passado. Ela deixou o videocassete gravando uma minissérie de TV. Quando, mais tarde, foi ver a fita, identificou a filha na reportagem de um telejornal. "O próprio delegado Gaspar me informou que é muito grande a possibilidade da pessoa ser realmente a minha filha", conta Dulce Brito.
A reportagem era sobre a situação das prostitutas brasileiras na Espanha, enganadas por quadrilhas especializadas em transformar mulheres em mercadorias. Uma das entrevistadas afirmava que passou dias em um calabouço. Esta palavra foi citada pela filha em um dos últimos contatos telefônicos entre as duas. Em maio, ela ligou e disse que pretendia vir a Pernambuco para comemorar o aniversário da mãe. Além disso, apresentaria o namorado, um espanhol chamado Ramon.
Mas a filha não voltou ao Brasil na data marcada. Em outro telefonema, ela disse que ficou doente e que também havia sido presa, juntamente com Ramon. "Eu orientei para que ela fosse à embaixada brasileira", afirma a mãe. Depois de dois meses sem contato com a filha, ela ligou para a casa de Ramon. Soube, através de uma mulher, que a pernambucana havia sumido. Em novembro que recebeu a última ligação da filha. Após a surpresa da volta, o próximo passo será a reconstrução de uma vida. "Ela ainda não me disse tudo, mas a história do sofrimento dela ainda vai servir de alerta para outras pessoas", afirma a mãe.
O retorno, com vida, da pernambucana, comprova a existência de uma rede internacional de tráfico de seres humanos atuando em Pernambuco. As vítimas são sempre mulheres jovens, interessadas em viajar para o exterior com a promessa de ganhar dinheiro em curto espaço de tempo.
Fonte: http://www.pernambuco.com/diario/200...urbana4_0.html
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