
As forças de segurança organizam uma rusga no hotel de luxo Steigenberger onde, na suite principal, encontram o que procuram: um homem encontra-se na cama, despido, com nove prostitutas à sua volta (duas delas deitadas ao lado dele), 56 mil euros numa mala e 11,9 gramas de cocaína no cinzeiro – marca Versace – da mesa de cabeceira.
Mas o mais incrível é a identidade do indivíduo: Jörg Immendorff, o grande pintor alemão contemporâneo, de 59 anos, amigo íntimo do chanceler Gerhard Schroeder e, desde há alguns anos, seu retratista oficial.
A ‘festa secreta’ de Immendorff culminou numa acusação de posse de drogas – na sua casa foram encontrados 9,7 gramas de cocaína – e de incitação a consumi-la.
Durante o julgamento.que decorreu no Tribunal de Dusseldorf, um pálido e nervoso Immendorff confirmou os crimes:“Admito todos os delitos de que sou acusado. Mas eu só estava a dar vida às minhas fantasias eróticas de tendência oriental e nunca cheguei a manter relações sexuais”, precisou o artista, que em 1978 ‘saltou para a fama com a sua obra ‘Cafe Deutschland’. Immendorff reconheceu também ter celebrado outras 27 festas similares, ao longo de dois anos e meio.
‘Condenado’ à morte depois de lhe ter sido diagnosticado, em 1997, uma variante da esclerose, conhecida como a doença de Lou Gehring, o pintor recorreu diversas vezes à cocaína para enfrentar os seus ataques de pânico. “De repente invade-me uma extrema sensação de medo e tenho que tentar controlá--la de alguma forma” justificou o famoso artista reportando-se à cocaína encontrada.
Dono de ‘galardões’ importantes, entre eles o Prémio Marco do México, Immendorff é um dos pintores favoritos de Gerhard Schroeder. O chanceler encarregou-o de fazer o retrato oficial, o qual deverá ser colocado nas paredes da Chancelaria de Berlim, junto ao dos restantes chefes de Estado alemães, posteriores à II Guerra Mundial.
O expressionista, conhecido como ‘Mick Jagger da cena artística europeia’, conta que já está a sofrer as consequências dos seus actos: depois de ter sido descoberto com as nove prostitutas, Immendorff foi temporariamente suspenso do seu cargo de professor na Academia de arte de Dusseldorf.
Nessa mesma Academia, há três anos, o pintor conheceu e casou-se com a sua aluna búlgara, Oda Jaune, 30 anos mais nova que ele e com a qual já teve descendência. “Que pensava a sua esposa de tudo isto?” perguntou-lhe recentemente o promotor. “Oda não sabia de nada”, respondeu Immendorff, muito abatido.“Compreendam. Estas festas eram realizadas por mim com ânsia de viver”, gritou-lhe Immendorff. “Oh Professor!”, respondeu-lhe o promotor, “todos temos vontade de viver!”. O tribunal condenou-o a uma pena suspensa de 11 meses de prisão.
Silvia Roman (Berlim, Exclusivo El Mundo - CM)
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